Revendo a série The Last of Us: adaptações precisas, erros e melhores momentos
ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS DA 1ª TEMPORADA DE THE LAST OF US.
Eu sou um grande fã de The Last of Us. Quando o jogo saiu, eu nem tinha um PS3, só fui jogar a primeira vez em 2014, na versão demo do jogo, quando meu pai comprou o videogame. Apenas em 2015, pude jogar a versão completa, e desde então o jogo figura no meu top 5 melhores jogos da vida.
O jogo não "inventou a roda", o seu trunfo é contar uma história simples muito bem, com ótimos personagens, atuação e uma jogabilidade divertida, que brilha muito mais pela direção de arte e level design do que necessariamente pelas mecânicas. Mas é esse perfeccionismo da Naughty Dog que faz The Last of Us ser tão brilhante. The Last of Us funciona tão bem como jogo, que eu não acreditava que uma adaptação para cinema ou TV fosse fazer jus ao material original, até porque nesta mídia, The Last of Us é menos inovador ainda, afinal, já temos muitos filmes de zumbi e muitos filmes de "viagem na estrada". De certa forma, eu ainda acho que estou certo: o jogo é melhor que a série, mas isso não significa que a mesma não tenha dado motivos mais que suficientes para existir.
Mudanças e adições
Como eu disse, o jogo ainda me parece uma experiência melhor, mas a série possui tantas mudanças e adições muito bem trabalhadas, que é quase uma extensão do jogo, garantindo que ela exista como um produto que agrade quem nunca jogou, e também trazendo novos eventos e pontos de vista para quem já jogou.
Muitas cenas, como as dos cientistas no primeiro episódio, ou a autópsia de um infectado em Jacarta, são excelentes e não funcionariam bem no jogo, já que jogos prezam pela interação.
Outra grande adição é trazer fraquezas para Joel. No jogo, as fraquezas de Joel são as fraquezas do jogador. Caso você não possua boa mira, terá dificuldades, ou, quem sabe, não possua bons reflexos, sofrerá em batalhas com vários infectados. A questão é que tudo isto não pode ser transportado para a série, logo, precisamos conhecer as fraquezas de Joel, para que possamos enxergar o quão difícil é a missão de atravessar o país garantindo que a garota Ellie chegue intacta do outro lado. O Joel da série é surdo de um dos lados (o completo oposto da audição "de morcego" que ele possui no jogo), tem picos de ansiedade e até admite que está velho e fraco.
Existem muitas outras adições que irei comentar mais para frente nos melhores momentos, mas antes, vamos tirar o que tem de ruim.
O lado ruim
Eu não tenho grandes problemas com a série, muito pelo contrário, irei citar apenas um ponto ruim, mas ele é tão grande, que acaba ficando bastante evidente: faltam infectados na série. Sim, numa série sobre apocalipse zumbi, os realizadores aparentemente ficaram com vergonha de colocar os monstros. Muitas cenas foram resumidas por motivos óbvios, e as partes que eles resolveram cortar foram as que tinham infectados.
Não me entendam mal, toda vez que infectados são parte essencial do episódio, é muito bem executado, tão bem executado, que faz muita falta não termos mais cenas similares. The Last of Us ainda é um jogo de ação, e este aspecto deixou a desejar na adaptação. Não temos infectados nos esgotos, não temos infectados no inverno, não temos infectados na cidade do Bill, etc. Este aspecto enfraquece bastante a adaptação para mim. The Last of Us é bom pois mescla bem ação e drama, a série poderia ter ido um pouco mais por este caminho. Felizmente, não fui o único a reclamar disto e parece que na 2ª temporada teremos mais cenas com infectados.
Melhores momentos
Eu acho que quase todos os episódios são incríveis (apenas um não é do meu agrado, mas é puramente pessoal), então vou colocar aqui a melhor cena de cada episódio, tendo em mente o que ela traz de novo para quem já jogou The Last of Us:
Episódio 1: Quando estiver perdido na escuridão
A cena dos cientistas conversando num programa de TV é absurdamente bem executada. É um diálogo muito bem escrito, pois faz a exposição do Cordyceps de um jeito interessante, com um ar de suspense e medo, que instintivamente remete ao caos que foi o Covid-19. E, de bônus, expande informações científicas sobre o fungo.
Episódio 2: Infectados
A cena dos estaladores brilha muito, o uso de plano sequência nessa cena é lindo, a parte sonora emula perfeitamente o som das criaturas e traz o medo que causa em quem joga, e agora, em quem assiste. A cena em que Joel recarrega a arma enquanto o estalador vai se aproximando é um dos pontos altos da temporada.
Episódio 3: Por muito, muito tempo
O episódio inteiro é uma novidade para os fãs do jogo, e tudo é muito bem trabalhado para nos transportar para esse romance no fim do mundo. Mas a leitura da carta que Bill deixou para Joel é excelente, e faz um trabalho magistral de fazer a ligação entre este episódio e os sentimentos que Joel tinha pela Tess e pelos que ele terá com a Ellie no futuro. Bill achou um motivo para viver depois que o mundo acabou. O mundo de Joel acabou no dia da morte de Sarah, mas ele vai descobrir que ainda existe algo pelo que vale a pena lutar.
Episódio 4: Por favor, segure a minha mão
A inocência de Sam perante o mundo e como ele desenha e pinta para se distrair do caos que existe lá fora é um elemento totalmente novo que agrega demais ao drama dos irmãos Henry e Sam.
Episódio 5: Resistir e sobreviver
A adição de que Henry salvou o irmão mais novo entregando a vida de um homem bom é excepcional, pois cria um drama maior no futuro. Confrontado pelo sentimento de culpa a todo momento, quando Sam morre, Henry percebe que tudo o que ele fez foi em vão, que fracassou na sua missão, culminando numa cena de suicídio muito pesada e triste.
A cena do Baiacu destroçando pessoas é amedrontadora e também muito marcante.
Episódio 6: Parentesco
A conversa em que Joel revela para o irmão que está fraco, velho e surdo é um soberbo trabalho de adaptação, como disse anteriormente, pois entrega as fraquezas do personagem. A atuação de Pedro Pascal é, de igual modo, soberba.
Episódio 7: O que deixamos para trás
O episódio de que menos gosto, já que eu também não curti muito a DLC na qual este capítulo se baseia. Acho que o cenário do shopping é um cenário perfeito para criar cenas de terror ou de ação e, infelizmente, a série não aproveita esta oportunidade. Mas assim como a DLC, constrói muito bem a relação de Ellie com Riley, com um final extremamente trágico.
Episódio 8: Quando mais precisamos
Este trecho no jogo é um dos melhores e na série não é diferente. A melhor adição é inserir um elemento religioso. David é quase um pastor para seu grupo e todos aceitam o que ele pede como se ele fosse um mensageiro de Deus. Depois descobrimos que, assim como na vida real, alguns desses líderes utilizam a obediência de seus seguidores para fazer maldades indizíveis.
Episódio 9: Procure a luz
O último episódio é quase que completamente igual ao jogo, com poucas mudanças ou adições, mas o diálogo em que Joel fala para Ellie que o que curou seu trauma não foi o tempo é lindo e muito marcante.
A cena da girafa ficou linda nesta versão, também.
Conclusão
Este texto não é exatamente uma review da série, mas se eu tivesse que dar uma nota, daria 8.5 de 10, por conta dos problemas citados, mas certamente é uma das melhores adaptações de games de todos os tempos e vale muito a pena ser assistida.
Escrito pelo andarilho Júlio Santos.
Comentários
Postar um comentário