Desbravando Death Stranding 2: On the Beach - Uma Review

Death Stranding 2: On the Beach é a continuação do jogo lançado em 2019, dirigido por Hideo Kojima, e que na época, para a surpresa de muitos, foi um jogo que não focava em ação, mas num sistema de entrega de mercadorias em que a jogabilidade mirava na travessia de cenários difíceis, ou seja, "era um simulador de andar", como a maioria afirmou na época. Fico feliz em dizer que eu sou um dos jogadores que confiou no jogo desde seu lançamento, e não há demérito ter dado uma chance anos depois como muitos fizeram, mas ter estado lá desde o início me permite uma visão muito especial do que é Death Stranding 2: On the Beach, mas vamos por partes.

Sam Death Stranding 2

O que é Death Stranding?

Death Stranding é um jogo de conexões, é sobre ajudar pessoas que estão separadas e precisam de suprimentos, contato humano e tudo o que envolve a vida biosocial. No fundo, o jogo se trata de viver, e viver vai além de apenas estar vivo, mas sobre explorar a vida, se conectar com pessoas, se permitir ser feliz mesmo num mundo quebrado. Na jornada de Sam (protagonista do primeiro e do segundo jogo), ele conecta as pessoas de todo um país, e no processo, ele aprende a se conectar com estas pessoas e até consigo mesmo, quando ao fim do jogo, ele encontra algo pelo qual vale a pena lutar. Mas o que acontece quando ele perde isto?

O que é Death Stranding 2: On the Beach?

Sendo bem honesto, Death Stranding 2 é "menos" que seu antecessor, sua mensagem ainda deriva daquela anterior já apresentada e tenta trazer um questionamento: "Deveríamos ter nos conectado?". A pergunta não é ruim, nem sempre todas as pontes criadas vão trazer algo bom, existe a possibilidade de que num mundo mais conectado, outros perigos possam surgir, mas a discussão dentro do jogo não tem o peso que deveria ter, a resolução do problema soa fácil demais dentro do que é proposto no jogo, mas isso não significa que Death Stranding 2 não consiga trabalhar com outras linhas filosóficas.

O jogo trabalha bem o tema de vingança: num mundo em que a morte e a vida estão confusas, a vingança pode ser muito cruel, pode ser torturante, física e mentalmente. O vilão do jogo trabalha bem estes temas e traz um frescor ao universo de Death Stranding, já que o conceito de vingança é um conceito humano, e, portanto, muito mais fácil de entender e de prender o jogador na história, diferente do primeiro jogo, que é muito mais confuso e enrolado, ao bom estilo do Kojima.

Neil Vana Death Stranding 2

Death Stranding 2: On the Beach também é sobre vida e morte. É muito interessante como o jogo constrói muito bem a ideia de que a morte é somente uma outra etapa da jornada de um ser. Para evitar spoilers, reservo-me apenas a dizer que "a morte não pode nos separar" e ela não separa mesmo, pois do lado dos que se foram, ainda podem surgir muitas surpresas na aventura. Para além do jogo, é uma bela forma de falar que, ainda que tenham partido, os nossos ainda estão conosco, nos guiando, nos inspirando a seguir nossos caminhos.

Gráficos impressionantes

Falar bem dos gráficos de Death Stranding 2: On the Beach é chover no molhado. Tudo é muito lindo, evocando a natureza e a beleza de se explorar este mundo em todos os seus biomas: montanhas, florestas, desertos, praias. Muita gente fala que gráficos não importam, mas eles importam sim, dependendo do jogo que você quer entregar. Death Stranding 2: On the Beach não funcionaria se tivesse um gráfico meia boca, já que parte de sua experiência é contemplar a beleza de tudo ao seu redor.

Death Stranding 2 montanha

Outro ponto de destaque são as expressões faciais e os detalhes nos rostos humanos. É possível ver poros do rosto com detalhes e o que mais me impressionou foi perceber que até aqueles pelos faciais femininos podem ser vistos quando a câmera chega mais perto.

Trilha escolhida a dedo pelo Kojima

Mais uma vez, o Kojima faz uma seleção fantástica de músicas que acompanham nossa jornada, uma das minhas preferidas é Let's not say another word. Todas as músicas evocam um sentimento de calmaria e dever cumprido e também funcionam como recompensa no loop de gameplay do jogo, já que o jogador recebe novas músicas ao fim de uma entrega, e estas músicas podem ser tocadas livremente no reprodutor de músicas do jogo, com direito até à criação de playlists.

A trilha original também é excelente, pontuando momentos de ação ou tensão com maestria. Mais um excelente trabalho de Ludvig Forssell, desta vez acompanhado do incrível Woodkid.

Enredo e narrativa

Já falei um pouco sobre este tópico no início do texto, mas quero complementar um pouco mais minha visão sobre o que falei.

No geral, Death Stranding 2 entrega uma história que preza pelos "segredos revelados", ou seja, as informações são sempre pela metade, o Sam nunca sabe nada, assim como o jogador, e tudo passa a ficar mais claro apenas na reta final do jogo. Alguns plot twists (viradas do enredo) até funcionam muito bem, outros são bem óbvios, com alguns deles podendo ser descobertos logo nas primeiras horas de jogo pelo olhar mais atento. Há quem goste de histórias que escondam tudo para entregar um final bombástico, mas não pegou para mim, passou a ser repetitivo ficar recebendo migalhas de informações de segredos que nem eram tão surpreendentes assim.

Rainy Death Stranding 2

Não me entendam mal, não é uma história ruim, mas não tem o refinamento que eu esperava. Os personagens do jogo são bastante emblemáticos e divertidos de se conhecer, existe um vínculo criado com eles de certo modo, mas poderia ser melhor. O cenário era até ideal: imagine você andando pela DHV Magalhães e tendo conversas opcionais com seus tripulantes, talvez até com missões extras que revelassem mais sobre eles ou permitisse que o jogador ajudasse em seus problemas pessoais, algo como a franquia Persona já demonstrou funcionar muito bem.

Existem três tramas acontecendo no jogo e todas são funcionais, duas são bem óbvias com algumas surpresas correndo pela tangente e uma delas é a parte da vingança que citei lá em cima. Vou ser honesto, não é a melhor escrita do Kojima, mas fica difícil ficar procurando problema nisso quando existe um fator que me faz querer perdoar estes deslizes, e esse fator é o nosso próximo tópico.

Jogabilidade criativa num jogo de "andar"

O que este jogo faz para tornar a jogabilidade cada vez mais interessante é de outro mundo! Basicamente, Kojima eleva o que fez no primeiro jogo e acrescenta uma pitada de liberdade aos moldes de Metal Gear Solid V: Phantom Pain. As possibilidades de travessia são muitas e incluem as clássicas tirolesas, os tratores que carregam mais peso, as motos e caminhões e agora o meu preferido: um skate que na verdade é um caixão high-tech.

Caixão Death Stranding 2

A criatividade envolvendo estes itens cria uma jogabilidade divertida em todas as instâncias, não existe jeito errado de jogar, existe preguiça ou equívoco. Você quer fazer o menor caminho de um ponto a outro, mas tem inimigos no meio? Tudo bem, você pode fazer isso, se houver preparo de seu equipamento de modo adequado.

Além dos itens de travessia, existe um número gigantesco de armas novas, de muita variedade: bumerangue, granadas, metralhadoras, lança-mísseis, snipers, escopetas, drones que atacam sozinhos, minas e muito mais. É prazeroso invadir uma base inimiga à sua maneira. A jogabilidade de movimentação ainda não é a mais precisa do mundo, mas melhorou muito. Para os mais aficionados pela ação desenfreada, é possível treinar nos modos VR do jogo, que podem render horas extras de jogatina.

Uma coisa que vale pontuar aqui é que muitas pessoas que não conhecem o jogo dizem que o mundo é vazio e etc., mas desde o primeiro isso tem um motivo muito claro: o jogador é quem deve povoar este mundo com suas construções, com suas pegadas, pelos caminhos que escolheu, construindo estradas e até nos seus erros, quando deixa uma carga ou veículo para trás. O sistema online do jogo é impressionante e saber que o que você faz pode ajudar um companheiro entregador é a cereja do bolo na experiência de jogar Death Stranding 2: On the Beach, já que uma das mensagens aqui é sobre como essa conexão pode trazer muitos frutos, se feita da maneira correta.

Boss Death Stranding 2

Por último, gostaria de citar que as batalhas contra chefes melhoraram muito em comparação ao primeiro jogo. O visual dos chefes é incrível e tudo é muito mais instigante. Talvez elas não façam nada de novo a nível de mecânicas de jogabilidade, mas certamente entregam na grandiosidade do momento. Fico feliz de ver o Kojima trazendo de volta essas batalhas contra chefes de maneira mais a par com as habilidades dele.

Conclusão

Death Stranding 2: On the Beach dura cerca de 35 a 40 horas se focar na trama principal e algumas secundárias (inclusive algumas delas possuem uma história por trás, tornando-as mais interessantes). Ainda é exatamente como seu antecessor, então não espere um jogo de ação. Ele possui mais possibilidades de combate, mas as entregas ainda são seu foco.

EPs Death Stranding 2

É uma experiência relaxante, climática, divertida, triste, cansativa e valiosa. Ainda que seus momentos mais dramáticos não estejam à altura do primeiro jogo, continua sendo uma aventura fantástica nas loucuras da mente de Kojima e sua equipe. Ainda que com deslizes, é difícil não se apaixonar por tudo isso e fazer vista grossa para alguns problemas.

Nota: 10.0 de 10.0 vezes que eu andei longos quilômetros com um sorriso no rosto.

Escrito pelo andarilho Júlio Santos.

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